Às vezes a ritualística da Santa Missa faz com que caiamos na mera repetição mecânica da Liturgia Eucarística.
Hoje, porém, quando Frei Aloísio pronunciou as palavras "estando para ser entregue e abraçando livremente a paixão", algo novo se abriu em minha compreensão.
Com ramos nas mãos, ouvimos que quando Jesus entrava em Jerusalém, muitos estendiam mantos e ramos e gritavam "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mc 11:9). Uma semana depois, as mesmas pessoas gritavam: "Crucifica-o! (Lc 23:21)"
Muito poderíamos cogitar acerca da volatilidade da vontade de homens e mulheres e das razões que transformaram tão radicalmente a percepção que tinham de Cristo, em tão pouco tempo.
Mas esta reflexão é sobre o fato de que Jesus conhecia seu destino ao adentrar Jerusalém. Os louvores não o enganaram: Ele sabia qual era o destino que ali iria cumprir e, conhecendo o martírio, abraçou livremente a paixão.
Frei Aloísio convida-nos então à reflexão sobre nossa própria Cruz e sobre como com ela lidamos. Embora Deus nos tenha feito para que tenhamos vida e a tenhamos em abundância (Jo 10:10), a Cruz é um destino comum de homens e mulheres.
Por quais motivos então a ela resistimos tão fortemente? Por que a ela não nos entregamos livremente?
Isso não significa se entregar à tristeza, à depressão, à doença, ao pessimismo, aos problemas. Ao contrário: ao abraçarmos a Cruz, compreendemos que ela faz parte de nossa vida e dela podemos extrair força para o enfrentamento das adversidades e para nosso próprio renascimento.
Conversando com meu filho sobre as palavras de Frei Aloísio, Pedro refletiu que mesmo Jesus teve três dias para que sua ressurreição acontecesse. 1
Diante da dor, da doença, da morte, da humilhação, renascer toma tempo: não é um processo automático.
Mas se carregamos a Cruz em nosso peito, em sinal de nossa fé, por que dela temos medo?
Disse Frei Aloísio: há quem não consiga abraçar a paixão - do latim passio, sofrimento - e implore compaixão. Entretanto, a superação da dor é subjetiva e nos oferece uma possibilidade pessoal de revigoramento e ressurgência.
Precisamos estar dispostos a abraçar livremente a paixão, se quisermos viver nossa Páscoa.
Serviço:
Confissões comunitárias durante a Semana Santa
Frei Aloísio
Terça (26) e quarta (27): 19h
Quinta (28), sexta (29) e sábado (30): 9h
Paróquia do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora
Rua Joaquim Nabuco, 237, Graças, Recife
1 Para ler sobre a importância de Maria e Madalena no testemunho da Ressurreição, convido à leitura de outro texto: Uma Liturgia feminista de Páscoa, escrito a partir das reflexões do Monge Marcelo Barros. Disponível em: https://midianinja.org/lianacirne/uma-liturgia-feminista-de-pascoa/
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